sexta-feira, 1 de abril de 2011

Vai que é Tua



No futebol, eu nunca fui lá um Pelé.

Gostava de futsal e jogava até direitinho de pivô com os pirralhos menores que eu.
Quando era com a turma do teu top, eu ía cada vez mais pra trás e acabei descobrindo um talento:

Goleiro, meu véi!

A escola que eu estudava (Irmã Elizabeth) nunca formava boas equipes pra disputar os jogos municipais.
O time sempre era ruim.
E como o time começa pelo goleiro, lá estava eu de titular!

A gente não passava da primeira fase em nada, mas depois de um tempinho eu até que estava me garantindo no gol.

A nossa turma organizava, de vez em quando e nas férias, uns torneiros.
Sorteávamos os times e íamos jogar.

Num desses torneios eu era goleiro de um time que acabou sendo 3º colocado e fui o goleiro artilheiro com 5 gols.

O meu melhor momento como jogador estava perto.

Eu já tinha confiança pra sair jogando...
Não tinha mais medo de levar bolada...
Comprei umas luvas profissionais...

Eis que em 1997 fui estudar no Colégio de Aplicação que sempre tinha poucos alunos.
Era minha chance de ser tirular...

Mas eis que Fabrício galego resolveu estudar lá também.
Ele era goleiro e agarrava bem...
Tanto as bolas quanto as boyzinhas da região.

Apesar de o elenco ser reduzido, o time era muito bom.

De Fabrício no gol até George lá na frente, o time era comandado por Junior.

Os reservas: somente eu e Jerônimo!

Era o ano da COPA NESTOR PEREIRA (em homenagem ao Grande Professor de educação física de várias escolas de Serra Talhada).

Já estávamos na semifinal...
O jogo era contra a Escola Solidônio Leite...
Primeiro tempo e zero a zero no placar...
George recebe uma entrada maldosa e sai de quadra direto pra a clínica de Dr. Mário Veras.

Junior, nosso treinador, olha pro banco de reservas e lá estou eu com minhas indumentárias de goleiro e Jerônimo já aquecendo pra entrar.

Junior olha pra Jerônimo e diz:

-Jerônimo, dá a camisa pra PC que é ele quem vai entrar.
-Mas, Junior... Eu jogo na linha e PC é goleiro - Respondeu, com indignação, Jerônimo.

Eu confesso que fiquei meio sem jeito, mas ordens são ordens, né não!?
Jerônimo ficou puto, mas teve que me dar o short e a camisa.

No final do jogo o placar era de três a zero pra a gente...
Três gols meus, ó!

Acabamos campeões daquela copa batendo na final a Escola Irmã Elizabeth.

Ainda hoje, quando lembro que aquele dia foi o meu máximo como desportista, lembro que pode ter sido o fim da carreira pra Jerônimo.


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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Via Sacra



Tive um namoro que durou aproximadamente pouquíssimo tempo!

Morávamos na mesma rua.
Embora a distância fosse pequena, havia um grande receio em "chegar junto".
Primeiramente e naturalmente pelo medo de levar um "rela" (um fora) dela que era braba, depois ainda tinha a mãe dela que era mais braba ainda.

Era época de semana santa e, naqueles tempos, nós acompanhávamos as "Via Sacras" que o pessoal da igreja realizava pelas ruas do bairro.
Eu sabia todos os passos de Cristo desde a condenação até a Ressurreição.

Muita gente seguia cantando com velas na mão:

"Pela virgem dolorooooooosa
Nossa mãe tão piedoooooosa
Perdoai-me, meu Jesuuuuuuuus
Perdoai-mei, meu Jesus"

De estação em estação, de casa em casa...
As velhas iam rezando e a criançada gostava mesmo era da animação.
De vez em quando colocavam a gente pra ler alguma coisa, a gente lia, ficava meio sério naquela hora e depois voltava pra a gandaia.

Num dia desses de Vi Sacra, eu estava decidido a pedir a menina em namoro.

Enquanto Jesus caía e levava chibatada eu ia tomando coragem de ir falar com ela, mas só depois que Cristo Ressuscitou é que eu resolvi ir.

A irmã dela, que estava ajeitando a coisa, disse que ela estava na escada da casa dela me esperando e que eu deixasse de ser mole e fosse lá.

Meu diálogo com ela foi simples e claro!
Mesmo assim ninguém conseguiu sair daquela escada namorando.

Fui até a escada onde ela estava sentada com a cabeça baixa e perguntei:

-Quer namorar comigo?
-Quero, por quê?
-Não, por nada...!!!

Namorar uma menina braba que responde "Quero, por quê?" não poderia dar certo.
Lavei minhas mãos e fui embora!

Tô fora!

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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Foi na Loja do Mestre André



Eu morava quase vizinho à escola onde estudava e por esse motivo, meu avô ia me buscar sempre no horário certo.
Nunca muito antes, nunca muito depois.

Acontece que ao final do dia, na sala de aula, a última coisa a se fazer era uma atividade musical.

Tia Dinda abria o armário com vários instrumentos infantis e era a melhor hora do dia. Tinha sanfona, tarol, flauta, piano, violão, xilofone e tinha também lixa.

É, tinha lixa!!!

Nossa maestrina nos posicionava na sala de aula em fileiras.
As primeiras eram ocupadas pelas crianças que normalmente os pais vinham buscar mais cedo, as últimas eram ocupadas por mim e pelos que também moravam ali por perto.

Os instrumentos também eram distribuídos em grau de importância. As sanfonas, violões e etecéteras sempre ficavam com o pelotão de frente.
Sobrava o que pra mim? Uma lixa!!!

Eita instrumento ruim!

Mas vamos lá, a música que cantávamos/tocávamos era "A Loja do Mestre André" onde os instrumentos eram executados 
separadamente segundo a ordem da música.

"Foi na loja do mestre André
Que eu comprei minha sanfona.
Fon-fon-fon minha sanfona!
Fon-fon-fon minha sanfona!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André...

Foi na loja do mestre André
Que eu comprei meu violão.
Blem-blem-blem meu violão!
Blem-blem-blem meu violão!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André...

Foi na loja do mestre André
Que eu comprei o meu piano.
Plim-plim-plim o meu piano!
Plim-plim-plim o meu piano!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André..."

Pausa dramática:

Nisso, os pais começavam a chegar e levar seus filhos (os das primeiras fileiras) pra casa.
O coro ia ficando cada vez mais ralo.

"Foi na loja do mestre André
Que eu comprei meu xilofone:
Blim-plim-plim meu xilofone!
Blim-blim-blim meu xilofone!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André...

Foi na loja do mestre André
Que eu comprei o meu tarol.
Trá-trá-trá o meu tarol!
Trá-trá-trá o meu tarol!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André..."

Chegando a minha vez de cantar, só tinha na sala de aula eu, Tia Dinda, alguma criança (chorando) que o pai esqueceu de ir buscar, o zelador querendo fechar a escola e só.

Mas vamos lá.
O espetáculo não pode parar!
Era a hora do meu solo fantástico de lixa.

"Foi na loja do mestre André
Que eu comprei a minha lixa:
Xi-xi-xi a minha lixa!
Xi-xi-xi a minha lixa!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André..."

Não me lembro de ter, nunca, tocado numa sanfona, piano, etc.
Eu pouco me lixava, na verdade.

Eita, lá vinha o meu avô me buscar!

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O Céu dos Passarinhos

                                   foto meramente ilustrativa.


Quando eu tinha, sei lá, meus 6 anos, morava numa casa não muito grande, mas com um muro bem generoso.



Desde aqueles tempos que "muro", pra mim, é sinônimo de "quintal".

Dependia apenas do contexto da frase.

Não lembro bem como, mas sei que certo dia existiu um passarinho de estimação lá em casa.
Ele vivia no muro e morava numa casinha feita com cabaça.

Era um "griguilim". Mais conhecido como "jandaia" ou ago do tipo.

Sei que certo dia esse griguilim apareceu morto!!!
A causa da morte foi revelada em instantes:

Morreu em decorrência de comer a sua casa-cabaça!!!

Tristeza naquele dia...

Não houve velório, nem o enterro da ave pelo que em lembre.
Apenas o enrolamos num pano velho e meu pai cuidou do resto.
Depois que ele voltou do terreno baldio, nos disse que o griguilim tinha ido pro céu dos passarinhos.

Em seguida, a minha mãe cantou uma música para "confortar" a criançada.

Confesso que, tempos depois, achei meio traumática aquela canção pra uma criança que acabara de perder um animal de estimação.

A seguir a letra da canção de ninar.

"Eu tinha um canarinho
Que me deram pra eu criar
Ele era amarelinho
E gostava de cantar

Mandei fazer uma gaiola
Pra botar meu canário dentro
Depois da gaiola feita
Meu canário caiu doente

Mandei chamar o doutor
Pra fazer a operação
Ele deu três marteladas
Na veia do coração

Na primeira martelada
Meu canário estremeceu
Na segunda bateu asas
Na terceira ele morreu

O enterro do meu canário
Foi enterro de muito luxo
A gatinha do vizinho
Pegou ele e passou pro bucho"

Titulo e Autor(es) desconhecidos / domínio popular




A coitada da gata da vizinha é que sofreu.
Apedrejava sempre que a via zanzando no muro.


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Mulher Melancia No Meu Pré-Escolar




Só fui apresentado à entidade chamada "escola" aos 5 anos de idade.

Tarde, né?! Não sei o porquê, mas foi isso.

Quase não lembro de nada antes de dar os primeiros passos no universo composto por bancas, livros, cadernos, professores, colegas, merendas, etc.

Tenho fragmentos fantasiosos de lembranças do tipo: catar latas na linha do trem a noite, plantar bananeira na calçada com meu avô sendo a plateia, ter medo do velho que vendia tapioca gritando "Êêêêêta a tapioca tá quente, tá quente, tá quente..."

Pois bem, nada muito real até 1986 quando ingressei nas Escolas Reunidas Irnero Ignácio.

No meu primeiro dia de aula, chorei feito menino queimado com gordura e, pra ver se eu parava de choro, Tia Dinda, minha primeira professora, me engabelou com um desenho de uma galinha com filhotes num terreno rural.
Mau sabia eu que aquele desenho cheiroso a álcool do mimeógrafo seria o primeiro de uma série que se estende até hoje.

Lembro bem de pintar a galinha de verde, os pintos de azul, o chão eu não colori. O céu pintei de amarelo e o sol também amarelei, mas ele tinha contorno que o definia bem.

Meus colegas me convidaram pra brincar de "comprador de melancias" (ô brincadeira besta véa danada, nam).

Como eu era novo na turma, tive o privilégio de ser o comprador. Um colega, Jonatas (brevemente escreverei sobre esse cidadão) foi o vendedor e os demais colegas deitaram no chão com a barriga pra cima.

Jonatas, começou a negociação:

-Olá, comprador! Gostaria de dar uma olhada nas minhas melancias?
-Ora! mas como não?! Claro... Por onde posso começar?!
-Fique à vontade!

Então comecei a dar um peteleco em cada barriga-melancia e tecer comentarios acerca de cada uma.

-Essa tá verde, essa tá boa, essa tá mais ou menos...

Quando cheguei à melancia chamada Constância, danei um peteleco e disse "Essa tá pôde"

Pra quê?!?!?!

Constância, com sua já volumosa melancia-barriga, se levatou chorosa e meteu um tabefe na minha cara!!!

Nunca mais brinquei disso!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Prateleira de Memórias

Um dia desses pensei:

E se algum dia a pessoa acordasse e não lembrasse mais de nada?

Uma vez ouvi dizer que nossa memória armazena coisas em três lugares: memórias recentes, memórias antigas e outra memória que não sei o nome, mas que fica no meio dessas duas.

Segundo isso, tudo o que acontece, nós colocamos na prateleira de memórias recentes e, dependendo da relevância de cada fato, vamos colocando elas nas prateleiras das memórias intermediárias e posteriormente na das memórias antigas.

Vou ver se consigo puxar algumas memórias das prateleiras mais antigas pra colocar aqui.