quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Via Sacra



Tive um namoro que durou aproximadamente pouquíssimo tempo!

Morávamos na mesma rua.
Embora a distância fosse pequena, havia um grande receio em "chegar junto".
Primeiramente e naturalmente pelo medo de levar um "rela" (um fora) dela que era braba, depois ainda tinha a mãe dela que era mais braba ainda.

Era época de semana santa e, naqueles tempos, nós acompanhávamos as "Via Sacras" que o pessoal da igreja realizava pelas ruas do bairro.
Eu sabia todos os passos de Cristo desde a condenação até a Ressurreição.

Muita gente seguia cantando com velas na mão:

"Pela virgem dolorooooooosa
Nossa mãe tão piedoooooosa
Perdoai-me, meu Jesuuuuuuuus
Perdoai-mei, meu Jesus"

De estação em estação, de casa em casa...
As velhas iam rezando e a criançada gostava mesmo era da animação.
De vez em quando colocavam a gente pra ler alguma coisa, a gente lia, ficava meio sério naquela hora e depois voltava pra a gandaia.

Num dia desses de Vi Sacra, eu estava decidido a pedir a menina em namoro.

Enquanto Jesus caía e levava chibatada eu ia tomando coragem de ir falar com ela, mas só depois que Cristo Ressuscitou é que eu resolvi ir.

A irmã dela, que estava ajeitando a coisa, disse que ela estava na escada da casa dela me esperando e que eu deixasse de ser mole e fosse lá.

Meu diálogo com ela foi simples e claro!
Mesmo assim ninguém conseguiu sair daquela escada namorando.

Fui até a escada onde ela estava sentada com a cabeça baixa e perguntei:

-Quer namorar comigo?
-Quero, por quê?
-Não, por nada...!!!

Namorar uma menina braba que responde "Quero, por quê?" não poderia dar certo.
Lavei minhas mãos e fui embora!

Tô fora!

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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Foi na Loja do Mestre André



Eu morava quase vizinho à escola onde estudava e por esse motivo, meu avô ia me buscar sempre no horário certo.
Nunca muito antes, nunca muito depois.

Acontece que ao final do dia, na sala de aula, a última coisa a se fazer era uma atividade musical.

Tia Dinda abria o armário com vários instrumentos infantis e era a melhor hora do dia. Tinha sanfona, tarol, flauta, piano, violão, xilofone e tinha também lixa.

É, tinha lixa!!!

Nossa maestrina nos posicionava na sala de aula em fileiras.
As primeiras eram ocupadas pelas crianças que normalmente os pais vinham buscar mais cedo, as últimas eram ocupadas por mim e pelos que também moravam ali por perto.

Os instrumentos também eram distribuídos em grau de importância. As sanfonas, violões e etecéteras sempre ficavam com o pelotão de frente.
Sobrava o que pra mim? Uma lixa!!!

Eita instrumento ruim!

Mas vamos lá, a música que cantávamos/tocávamos era "A Loja do Mestre André" onde os instrumentos eram executados 
separadamente segundo a ordem da música.

"Foi na loja do mestre André
Que eu comprei minha sanfona.
Fon-fon-fon minha sanfona!
Fon-fon-fon minha sanfona!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André...

Foi na loja do mestre André
Que eu comprei meu violão.
Blem-blem-blem meu violão!
Blem-blem-blem meu violão!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André...

Foi na loja do mestre André
Que eu comprei o meu piano.
Plim-plim-plim o meu piano!
Plim-plim-plim o meu piano!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André..."

Pausa dramática:

Nisso, os pais começavam a chegar e levar seus filhos (os das primeiras fileiras) pra casa.
O coro ia ficando cada vez mais ralo.

"Foi na loja do mestre André
Que eu comprei meu xilofone:
Blim-plim-plim meu xilofone!
Blim-blim-blim meu xilofone!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André...

Foi na loja do mestre André
Que eu comprei o meu tarol.
Trá-trá-trá o meu tarol!
Trá-trá-trá o meu tarol!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André..."

Chegando a minha vez de cantar, só tinha na sala de aula eu, Tia Dinda, alguma criança (chorando) que o pai esqueceu de ir buscar, o zelador querendo fechar a escola e só.

Mas vamos lá.
O espetáculo não pode parar!
Era a hora do meu solo fantástico de lixa.

"Foi na loja do mestre André
Que eu comprei a minha lixa:
Xi-xi-xi a minha lixa!
Xi-xi-xi a minha lixa!
Ai olé!
Ai olé!
Foi na loja do mestre André..."

Não me lembro de ter, nunca, tocado numa sanfona, piano, etc.
Eu pouco me lixava, na verdade.

Eita, lá vinha o meu avô me buscar!

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